Vejo a chuva chegar.
O vento mexe a taquara, o limoeiro, a jaboticaba, mexe o que
tem dentro de mim.
Atrás da nuvem está o Sol, sempre sol, sempre luz e calor.
O vento toca minha pele, tua pele toca a minha, és sempre
luz e calor.
Com a chuva vêm os sons. Pássaros que baixo voam, pássaros
que cantam devagar, a cidade diminui o ritmo, tira o pé do acelerador.
As gentes esperam a chuva, tem gente que fecha a janela, eu
abro. Quero o cheiro de chuva quando toca a terra.
Terra fonte de vida, que o homem ainda maltrata. Ela, por
sua vez se aquece, aquece mais do que o sol manda, aquece o quanto o homem
pede.
Pra quê tanto lixo, tanta coisa que não se usa, tanta coisa
que só se usa? Pra quê tanta coisa desprovida de beleza, de graça?
Cadê a gente da praça, cadê o povo que deita sob a árvore,
tem mais: cadê a árvore?
Pra quê tanta gente sisuda no trem, no ônibus, na rua? Por
que essa dama sem sorriso, de roupa e alma escura?
Por que a criança que pinta a cara, deixa a franja
atrapalhar o olhar? Não queria ela ver? Não quer ela trocar a roupa preta pela
amarela, aquela camiseta escondida no armário?
Num futuro quero gente que desenhe, que pinte, que saiba
ouvir. Ouvir, acima de todos, os barulhos que vem de dentro! Quero teatro,
música, dança, jogo. Quero ouro, prata, bronze. Pódio de chegada e beijo de
namorada. Quero a rua e a casa colorida, o concreto erguido com graça, a
madeira, o ferro. Quero harmonia, beleza, cor.
Quero a chuva que vem. Quero cheiro, som, passarinho. Quero
sol, sempre sol, sempre luz e calor.
Te quero do meu lado e seja o que Deus quiser!
Rodrigo Soares
Rodrigues
Novo Hamburgo, tarde de
11 de novembro de 2012.